Mulheres, política e carnaval: o que isso tem a ver?

O carnaval é político porque é um momento de expressão popular onde é possível apontar problemas sociais, raciais, de gênero e outras questões que perpassam a vida em sociedade.

Não raro podemos assistir desfiles de escolas de samba com enredos que nos convidam à reflexão, como recentemente aconteceu com o samba da Mangueira “História para ninar gente grande” que fez a Apoteose cantar que “chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês”, nos lembrando da história que a história oficial não contou.

Nos blocos de rua, foliões e foliãs se expressam com fantasias diversas e muitas nos chamam a atenção para o cenário político e suas mazelas. Eu mesma já me fantasiei de “água potável” como forma de protesto, em 2021, quando a água disponível para consumo no Rio de Janeiro estava contaminada com geosmina.

Mulheres políticas também costumam aproveitar o carnaval para colocarem nas ruas campanhas de conscientização a respeito do direito das mulheres, sobretudo o direito de seus corpos, que não são públicos.

Importante lembrar e reverenciar Marielle Franco que também esteve com seu corpo político nas ruas do carnaval carioca com a campanha “Não é não” como forma de conscientizar foliões e foliãs a respeito de ser indiscutível e inegociável o direito das mulheres ao respeito de seus corpos.  Isso nos mostra que  é possível fazer reverberar  movimentos de resistência durante o carnaval, colocados em músicas, fantasias, danças, performances, lambes e adesivos.

Mulheres negras estão na base da pirâmide, mas como bem nos lembra Lélia Gonzalez, são lidas como domésticas e mulatas, sendo exploradas como objetos sexuais durante o carnaval, inclusive chamadas de “mulata tipo exportação”.

Esse estereótipo é algo que o movimento de mulheres negras no Brasil tem lutado para destruir. Assim, no carnaval também existem debates aflorados sobre a hipersensualização da mulher negra, que é racismo, tal como é racismo a fantasia “nêga maluca”, porque não somos fantasia, muito menos malucas.

Então, no carnaval é tempo de alegria e festa, mas também de trazer à tona questionamentos a respeito do uso de certas folias para a perpetuação de violências contra mulheres, sobretudo as mulheres negras.

O carnaval é político, porque como nos ensinou Deleuze “o poder requer corpos tristes. O poder necessita de tristeza porque consegue dominá-la. A alegria, portanto, é resistência porque ela não se rende”.

Que com a alegria do carnaval possamos colocar nossa resistência na rua com protestos e conscientização social em forma de arte.

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