Presente e futuro: a urgência de mulheres jovens na política

A aversão da população jovem à política institucional tem sido recentemente apontada por inúmeros estudos. A pesquisa realizada pelo Observatório da Juventude na Ibero-América traz os alarmantes dados de que 60% dos jovens brasileiros estão desacreditados com a política e que 72% dos jovens entrevistados nem mesmo conversavam sobre política.

Esses dados se refletem na procura por capacitação política e no interesse para a participação na política eleitoral. No caso das inscrições para as formações oferecidas pela Tenda, percebemos uma lacuna na participação de mulheres jovens. Desde 2020, recebemos as inscrições de cerca de 800 mulheres de todo o Brasil. No entanto, nos chamou a atenção a baixa concentração de mulheres inscritas na faixa entre 18 e 21 anos. Para ilustrar em números, nas temporadas 2020 e 2021/2022, de todas as inscritas, pouco mais de 1% tinham dezoito anos. Dezoito anos é uma idade simbólica, dentre muitos motivos, porque é com essa idade que o voto se torna obrigatório e é também a idade mínima para se candidatar ao cargo de vereadora. Vinte um anos, por sua vez, é a idade mínima permitida por lei para se candidatar para os cargos de deputada estadual e federal. Por que então jovens mulheres nessa faixa etária não estariam buscando a aproximação da política por meio de capacitações políticas?

O levantamento “Juventudes e a Pandemia: e agora?” revelou que a carreira política, no futuro, atrai apenas 4% dos jovens. Esse dado nos mostra que precisamos de um movimento ativo de aproximação de jovens. Tendo isso em vista, A Tenda iniciou uma formação política com 20 jovens mulheres, na qual elas terão uma capacitação completa para compreenderem como funciona o sistema político brasileiro, passando pela importância e as diversas formas de participar, até as habilidades necessárias para a atuação em campanhas políticas. A expectativa é que, ao fim do ciclo formativo, essas jovens sejam integradas à rede de lideranças d’A Tenda e possam se voluntariar para trabalhar em em campanhas de mulheres defensoras dos direitos humanos ou para que estejam capacitadas para trabalharem em suas próprias campanhas, o que trará benefícios para os dois lados. Para as lideranças, uma equipe capacitada e disposta a aprender, para as jovens, a experiência única de atuarem em campanhas políticas de mulheres com as quais elas se identificam.

Nas inscrições para essa formação, levantamos alguns dados que podem ser importantes pistas para o desafio de como promover essa aproximação entre os jovens e a política institucional. O primeiro é a resposta dessas jovens à pergunta levantada nesse texto: por que os jovens estão desacreditados na política? A resposta[1] dada por 70% das inscritas foi “por não serem incentivados“, seguida por “por não confiarem nas instituições“, com 63% e, em terceiro lugar, “por não acreditarem que essa seja uma via de mudança“, com 53%. Quando essa mesma pergunta é direcionada a elas, questionando quais suas principais dificuldades para participarem da política, as respostas que se destacam praticamente empatadas são “não sei como atuar“, com 51,2% e “tenho medo de sofrer violência política“, com 48,8%. Essas respostas revelam questões preocupantes, mas também nos indicam os caminhos para reverter essa situação: se elas sentem que os jovens não são incentivados e que elas próprias não sabem como atuar para participarem da política, é justamente sobre esse ponto que devemos agir. Precisamos munir essas jovens com as ferramentas necessárias para ganharem segurança para atuar na política e se sentirem parte ativa desse sistema, com capacidade de transformá-lo. O fato de elas sentirem medo de sofrer violência política é um sinal urgente de que temos uma dívida geracional com essas jovens e garantir um ambiente político em que elas possam atuar sem medo é de responsabilidade de todos.

Apesar de ainda haver um longo caminho pela frente, uma das perguntas respondidas pelas inscritas na capacitação da Tenda para jovens mulheres entre 18 e 21 anos nos traz otimismo. Quando questionadas se votaram nas últimas eleições, todas afirmaram terem votado em pelo menos um dos turnos. Embora o voto seja obrigatório, sabemos que a abstenção no Brasil é alta, uma vez que seus custos são baixos. Assim, o fato de todas as inscritas terem votado é extremamente positivo, pois mostra um compromisso com a realidade política do país. Outro dado importante é que todas se declararam defensoras dos direitos humanos. Nosso desafio agora é garantir que essa participação não se encerre na ida às urnas, desenvolvendo lideranças de jovens mulheres para atuarem ativamente sobre o presente e construírem o futuro em que acreditam.

[1] Nessa questão elas podiam selecionar mais de uma alternativa.

Quem escreveu